domingo, 10 de julho de 2016

O começo de tudo

Terra


Era manhã de 16 de dezembro, eu estava sentado ao lado de umas pessoas que falavam bem alto, meus pensamentos estavam bastante distantes, eu não sentia que eu pertencia a aquele lugar, sabe aquela sensação que domina você do nada, que te faz pensar que você não devia estar ali, mas ao mesmo tempo, você gosta de estar fazendo algo diferente, no meu caso, eu estava apenas sentado tomando café em um lugar que eu nunca havia estado antes, para falar a verdade, eu nem gostava muito de café, estava aprendendo a colher seus benefícios energéticos, o dia parecia bom, o sol radiava no céu, com bastante azul, daqueles que te fazem ter dor de cabeça se olhar diretamente sem fechar um pouco os olhos e foi então, que eu ouvi, uma rajada muito alta, que fez a mesa de vidro a minha frente vibrar, a princípio eu achei que não era nada demais, tantos aviões no mundo, poderia ser algum avião caça que teria passado, até porque desse assunto eu entendia um pouco, mas não liguei muito, por mais estranho que parecesse, arrumei minhas coisas, me levantei e me coloquei a caminho de casa, eu sabia que tinham muitas coisas me esperando por lá.

Branco


Estava eu a observar um pequeno ponto azul, naquele lugar que chamam de Solaris, não me interessava muito por esse lugar, era bastante complicado, um lugar cheio de mentiras, cheio de problemas, cujo o qual eu só observada por 'tédio', mas aquele lugar azul, que quase me fugia da visão, começou a brilhar mais, logo pensei que alguma coisa havia acontecido e resolvi focar meu olho direito naquele lugar. Foi então que eu vi, um grande clarão surgindo de vários pontos do pequeno lugar azul, algo que eu só tinha visto uma vez, já há muito tempo, mas aquilo me preocupou, mesmo sabendo que é um lugar que eu não me interessava muito, eu quis investigar de perto, peguei minha bagagem, avisei meus superiores e quis descer até lá.

Terra

No caminho para casa, senti alguns pequenos tremores, logo lembrei-me do dia em que um terremoto conseguiu fazer minha cidade tremer, que chegou até derrubar algumas coisas da minha cristaleira, achei engraçado, já que meu país não tem terremotos e felizmente ninguém se feriu, mas aqueles tremores, estavam aumentando, ficando estranhos e como eu estava de fones de ouvido, não tirei minha concentração do caminho, eu estava a caminhar e caminhar, mas a ansiedade começou a tomar conta do meu ser, fiquei com o coração palpitando, pensei: - Alguma coisa aconteceu, mas não sabia o que era e como minha casa estava perto, resolvi chegar lá logo.
Ao chegar em casa, fiz minha rotina, tirei meus sapatos e minhas roupas e fui direto para a cama, ao ligar a televisão, percebo que um dia que eu sentia que iria chegar enquanto eu estivesse vivo, finalmente tinha chegado, uma guerra, uma das maiores que poderiam ter começado nesse lugar, e as informações estavam bastante confusas, no mesmo segundo peguei meu computador, comecei a revirar todos os meios de notícias e vi que algumas armas nucleares teriam sido disparadas em alguns países em crise, me senti um pouco sortudo de não estar no lugar onde aconteceu tudo isso, mas ao mesmo tempo, me senti triste, de alguma forma, eu sabia que alguma coisa assim iria acontecer e eu estaria aqui para ver, eu só não sabia o que ia ser a partir de agora, mas confesso, naquele segundo me senti um pouco melhor, pensei que muitas pessoas iriam parar de sofrer em um lugar como esse, já que eu não sou muito fã dele também e voltei a pesquisar, as notícias diziam bilhares de mortos, e a palavra "bilhares" me assustou profundamente, foi quando eu me dei conta de que aquilo era global, de que eu não estava seguro, não era mais uma guerra de um país contra o outro, era provavelmente uma guerra nuclear, aquelas que todos sempre tiveram medo de acontecer e com os ânimos de países egocêntricos muito elevados, coisas ruins foram feitas e logo pensei em procurar minha mulher e meu filho, que tinham ido ao mercado, senti que queria estar perto deles e não pensei nem meia vez antes de pegar o telefone e ligar desesperado. Ao saber que ambos estavam bem, eu pedi para ela vir para casa, sentia que precisávamos ficar juntos e a ansiedade foi tão grande, que sai ao encontro dela.

Branco

A descida é bem dolorida, muito rápida, parece que seu espírito vai se dividir ao meio, mas faz parte, afinal, mesmo sendo tão rápido, as distâncias deixam tudo muito tedioso, quando cheguei a esse lugar azul, senti uma energia muito forte, porém não boa, aquilo me deixava com medo, com um sentimento completamente diferente do que eu tive desde a última vez que eu estive aqui, eu sabia que era um lugar cheio de problemas e dores, mas aquela dor, era muito forte para ser normal, como de costume, desci no deserto, para não deixar vestígios, já estava me adaptando a atmosfera local e tomando forma, para ninguém estranhar minha presença, mas eu sentia que alguma coisa tinha dado muito errado. Fui caminhando em direção a primeira cidade, passei pelas pirâmides, me lembro de tempos complicados, porém divertidos que vivemos nesse lugar, estava muito diferente, cidades gigantes tinham se levantado próximas as pirâmides, mas entendi que aquilo fazia parte do crescimento do berço de Solaris, notei também que as pessoas não falavam mais o idioma que ensinamos, eles tinham modificado muitas coisas, mas como era um local conhecido, algumas coisas eu já consegui entender, eu via sinais, de várias cores por todos os lados, logo notei que eles começaram a evoluir tecnologicamente, fiquei feliz, pois a tecnologia lhes daria um bom futuro, infelizmente foi assim que pensei naquele momento. Continuei seguindo, perguntando algumas informações no idioma que eu conseguia manter naquele momento, logo me mostravam algumas máquinas de sua época e eu consegui acesso ao que eu precisava, uma guerra, eu diria "a guerra" desse pequeno lugar havia começado e senti que grandes mudanças estavam por vir, mas antes, eu precisava encontrar um ser, alguém com quem eu pudesse me comunicar de igual para igual, será que existem seres aqui assim ainda?

Terra

Quando os encontrei, senti que eu estava mais seguro, avisei a minha mulher do desastre que havia acontecido, mas como eu sempre falava sobre isso, ela sentiu a mesma tristeza que eu, nós dois já tínhamos um plano, sair da cidade quando algo ruim assim acontecesse e ir para um lugar mais calmo, que tivesse acesso a informações do mundo, mas onde as pessoas não pudessem nos machucar, foi assim, que começamos a arrumar nossas coisas para partir, embora eu sentia que estivesse preparado para aquilo a vida toda, a tristeza me tomava a cada segundo, eu percebi que aquele lugar que eu tanto odiei um dia começou a se tornar meu lar, e senti pelas várias pessoas que estavam sofrendo ao redor do mundo, porém, eu devia me apressar, afinal, eu morava em um lugar com grande população e seria mais inteligente sair daqui antes que mais uma bomba venha destruir um grande local.

Amarelo

Ao perceber o quão fúteis e inúteis são aqueles seres, nós já sabíamos que o final seria esse, armas, armas e mais armas, era tudo o que eles queriam, as armas para dominar tudo, o conhecimento da tecnologia bélica que tanto almejavam, pobres seres, inúteis, muito inúteis, agora apreciam a sua própria desgraça, finalmente a terra se tornava um lugar vulnerável a uma nova conquista, a uma nova ordem, a um novo poder, mas tenhamos calma, a desgraça daquele lugar apenas começou, nós ainda vamos tirar proveito do mal que eles fazem a eles mesmos, preparem um transporte para aquele lugar nojento, estarei lá, preciso conversar com alguns insetos que tenho como aliados naquele lugar.

Branco

Senti uma áurea diferente, mas estava muito distante dali, parece que o horror que tomava todo este planeta não afetava tanto algumas pessoas, algumas pareciam saber que algo ruim assim poderia acontecer e pareciam "preparadas" para isso, mesmo sem ter a certeza, confesso que isso era provável mas nem eu sabia que algo tão grande assim aconteceria, talvez eu devesse estudar mais as fontes futuras, mas são assuntos chatos demais e pouco certos para eu me interessar, foco, eu preciso de foco, preciso escolher uma dessas pessoas "preparadas" para tentar conversar e me atualizar sobre esse lugar de um ponto de vista humano, afinal, já fazem mais de 1 milhão de anos que não passo por esse lugar, ou talvez 10 mil anos, eu não sei bem como funciona o tempo aqui, na verdade, não sei nem como esses seres conseguem viver com tanta distorção no tempo, ou talvez seja o lugar de onde eu venho que tenha, esses assuntos sempre deixam minha cabeça completamente confusa, já dizia meu guia, eu preciso realmente estudar, agora, como faço pra criar um campo de levitação nessa gravidade que eu não me recordo mais como funciona?

Terra

Vi a cidade que eu mais gostava de longe, senti uma grande tristeza ao deixá-la, não sentia que havia algum risco de alguma bomba cair nela, sempre pensei no meu país como um paraíso para todos, recursos suficientes para muitas pessoas, não acredito que alguma nação faça mal para esse lugar, mas, nunca se sabe, eu era físico nuclear, sabia dos riscos da radiação e como ela se espalhava, tinha medo de algum mal acontecer para minha família, então, o melhor era mesmo partir. Uma coisa diferente do que eu sempre pensei aconteceu, minha família estava tranquila, eu finalmente havia conquistado a confiança deles para me seguirem onde eu fosse, sentia que eles acreditavam que eu sabia o que estava fazendo, foi quando senti um grande tremor, algo completamente diferente do que eu tinha sentido antes e foi ai que eu notei que eu estava errado, a grande cidade da qual eu amava muito, também tinha sido alvo de uma explosão, por sorte, nessa hora eu já estava longe demais para algo me fazer mal, mas ao ver as notícias no meu celular, senti que muitos amigos próximos tinham deixado esse lugar naquele momento e a chance de reencontrá-los seria muito pequena, foi então que comecei a chorar, me virei para minha esposa e perguntei: - Porquê? Porquê os seres humanos são assim, pessoas ficam guerreando umas contras as outras e porque os inocentes é que pagam? Mas não valia a pena chorar, o mundo sempre esteve destinado ao sofrimento pelo ego que as pessoas tanto sustentavam, pessoas nessa época matavam até por conta de um copo de água, uma briga de bar, uma discussão sem valor, acho que talvez, mesmo que alguma coisa acontecesse com a gente nessa viagem, eu não me importaria, eu sabia que pelo menos muitos que sofriam aqui tinham já deixado esse lugar para descansar.

Branco

Senti uma energia próxima a um dos seres que eu notei estarem calmos, aquilo me deixou curioso, porque esse ser que estava no meio de toda confusão não estava com medo? Afinal, eu aprendi que esse lugar é onde as pessoas mais tem medo em Solaris, vivem com medo da sombra, acho que é o que dizem por aqui, vou ter que me mover até essa pessoa, sinto que nosso encontro pode ser muito útil para o que eu vim fazer aqui. Finalmente consegui controlar essa matéria pesada e desenvolver um mecanismo para que eu possa me mover mais depressa, lembro que nos chamavam de "anjos", um nome que para eles deve ter algum significado com asas, o que para nós, são só atalhos para chegar em algum lugar mais rápido quando se tem matéria. Vejo como esse lugar ficou lindo, o oceano está um pouco diferente, parece que escureceu mais, porém, me lembro de que os seres jogavam dejetos em sua fonte de vida, o que a tornava ruim, coma demanda populacional crescendo, sinto que isso finalmente estava começando a surtir efeitos grandes, sinto que essas cidades destruídas já estavam mortas, de alguma forma, parece que algo deu muito errado por aqui, mas em meio a toda essa destruição e tantas mortes, não vejo como entender a lógica desse local, acho que demorei demais para voltar aqui, sinto que meus irmãos também sentiriam isso se vissem como esse lugar ficou. Acabo de me lembrar, aqui também tinham seres pequenos, o que eles chamam de animais irracionais, infelizmente eles pagam por escolhas humanas, é uma pena, alguns desses seres pequenos me alegravam em dias tristes aqui nesse planeta, bom, isso já foi, agora é tentar entender todo esse caos na visão de alguém que possa me contar, não posso me desviar desse caminho, gostaria de dar uma volta e ver o que restou dessa grande catástrofe, mas acho que não preciso fazer isso agora, sinto que o que sobrou, ainda dá para fazer o que eu estou pensando.

Amarelo/Terra

- Então me diga, o que foi que vocês arrumaram dessa vez?
- Senhor! Abaixando a cabeça em tom de reverência
- Eu quero entender qual foi o motivo de vocês terem destruído mais da metade do planeta com as armas que ensinamos vocês a usar no passado, porque vocês fizeram isso? Não que eu discorde, afinal, vivemos com orgulho do material que produzimos, mas só me diga, o que aconteceu?
- Senhor, já tem algum tempo que algumas coisas vem acontecendo, esse lugar estava ficando muito cheio, alguns recursos estavam acabando, outros se rebelam contra o poder, alguns até conseguiram grandes feitos, achamos melhor em comunhão com outros líderes tornar esse lugar um pouco melhor.
- Melhor? Como você pode dizer melhor, nós avisamos que nossas armas deixam uma grande quantidade de radiação, lugares dos quais vocês as jogaram não poderão mais ser habitados por sua raça.
- Sabemos senhor, mas fomos estratégicos nesses pontos, pensamos em todo mal que poderíamos causar a natureza, então só miramos em grandes civilizações, para diminuir a quantidade de pessoas que estavam aumentando rápido demais.
- Bom, não podemos intervir nesses assuntos, afinal, vocês já estão aqui há muitos anos, devem saber o que fazem, mas me digam, o que farão agora?
- Tentaremos colocar uma ordem nova senhor, algo que deixe as pessoas mais unidas, voltadas a um único propósito.
- Você diz que quer tentar controlar seres que nascem para não serem controlados, já dizemos no passado que só o medo é que pode fazer isso, mas tudo em grande excesso pode perder o equilíbrio, logo, vocês podem ter exagerado na quantidade de mortos, pessoas vão sentir essa dor e da dor o medo vira ódio e o ódio é incontrolável.
- Sabemos dos riscos Senhor, só queremos uma forma de tentar resgatar esse lugar, foram anos planejando algo desse tamanho.
- Bom, se você diz, então está feito, eu estou passando apenas para dizer que nosso suprimento de armas de nível 8 já está disponível, mas vejo que não vão precisar disso por enquanto, então eu volto em uma outra época, quem será o próximo no seu lugar?
- Ainda não decidimos Senhor, mas enviaremos os sinais para avisá-los.
- Bom, que assim seja então, vou partir, esse lugar está fedendo a morte e essa energia ruim está me deixando irritado.
- Como quiser Senhor, que o Senhor tenha uma ótima viagem de volta!
- Eu sempre tenho!
Seres nojentos, sentem-se donos do mundo, mas ao ver um ser superior, ficam tratando com tanto respeito falso que me da vontade de vomitar, quero partir logo desse lugar, ele realmente está fedendo demais.

Terra


Finalmente chegamos, bom, aqui não tem muito o que fazer, só realmente tentar descansar depois de todo esse desastre, espero que essa energia ruim que estou sentindo não seja mais um pressentimento de algo que está por vir, mas não, esse lugar é seguro, eu planejei estar aqui por anos, ainda bem que meu pai sempre me ensinou a pensar dez vezes em possibilidades antes de fazer qualquer coisa, vejo que as ferramentas que deixei aqui continuam do mesmo jeito, já é tarde, mas sinto que amanhã preciso deixar esse lugar com minha cara, são tantos anos que passei aqui na infância e já fazem tantos anos que eu não venho mais aqui, preciso pensar que a comida agora não pode mais ser comprada, porém as hortas desse lugar ainda estão em bom estado, de fome não vamos morrer, fico feliz também que a internet funcione aqui, embora já notei que mesmo que o símbolo apareça no celular, nenhuma página está sendo aberta, preciso consertar a antena, acho que vamos voltar aqui a era da televisão sem internet e aguardar as notícias do mundo calmamente, mas antes, vou subir naquele monte, ele sempre me trouxe paz, vou só dar um beijo em minha mulher e ver se meu filho quer ir comigo, afinal, ele ainda não conhece o pôr-do-sol daqui.

Branco

Perfeito, esse ser já está se aproximando e parece estar distante de todas as pessoas, acho que poderei chegar e conversar com ele tranquilamente, o que paira minha cabeça agora é se mantenho as asas ou não, lembro de uma vez no passado que apareci com asas para um desses seres e ele reagiu de uma forma não tão agradável, mas sinto que o coração desse ser está em paz, o que me intriga muito é como alguém pode estar ciente de tudo o que está acontecendo e manter tanto a paz? Bom, vou parar de pensar e me aproximar com cuidado, vejo que tem uma grande árvore ali e como já esta anoitecendo, posso observar um pouco esse ser antes de me apresentar, acho que aqui está bom, ele não vai conseguir me ver, só preciso diminuir o brilho da minha áurea, afinal, sinto que esse ser tem a visão aberta, talvez ele já até saiba que estou indo até ele, talvez ele possa sentir energias no ar, mas em breve eu tiro todas essas dúvidas.

Terra

Uma criança tão pequena não se interessa tanto pelo pôr-do-sol,  tudo bem, acho que um dia ele vai puxar essa vontade do pai dele, mas mesmo assim, acho que ver o pôr-do-sol daqui vai me fazer muito bem, quero apenas sentir essa energia e sair renovado daqui, não sei como vou conseguir dormir hoje, mas sinto que está tudo bem, será que sou uma pessoa ruim? Por estar tão tranquilo e tão preparado para tudo isso que aconteceu no mundo?
- Não, você não é uma pessoa ruim.
- Quem disse isso?
- Sou eu, alguém que eu sinto que você já sabe que está aqui, mas antes de me apresentar, resolvi falar com você em sua cabeça, dessa vez percebo que você sabe que está bem lúcido não é?
- Humm, ok, você pode me provar que você não é uma das vozes interiores que eu crio?
- Seria uma prova se eu aparecesse de trás daquela árvore que você está olhando agora com duas asas gigantes?
- Seria, mas calma, eu preciso me preparar para isso, sou uma pessoa muito medrosa, e só quero entender o porque um ser com sua energia veio falar comigo.
- Calma Gabriel, eu sei tudo sobre você, na verdade, até mais do que eu deveria saber, ao me aproximar de você eu senti sua energia e entendi porque de tantos eu escolhi você para conversar, você sabe que sempre acreditou em coisas assim e sabia também que era provável que algum ser superior aparecesse em meio a um desastre muito grande.
- Sim, faz sentido, por favor, apareça para eu vê-lo, vou tentar controlar minha ansiedade para não sentir medo.
- Pois bem, esse sou eu, não precisa se preocupar, sou um ser do bem e não tenho nada a ver com o que aconteceu aqui, mas precisamos muito conversar.
- Finalmente entendo que eu não estava errado sobre acreditar em algumas coisas assim, eu realmente não estou tendo uma alucinação? Posso chamar de estresse pós-traumático depois de tantos problemas que surgiram no dia de hoje.
- Não Gabriel, me diga como posso te provar que sua mente está sã.
- Para falar a verdade, depois de tudo isso, tanto faz se fiquei maluco ou não, só me diga o porque está aqui, se puder, por favor.
- Bom, isso já vai ser uma longa história, o que posso te dizer agora é que como eu te vi primeiro e você me viu primeiro, eu só posso conversar com você por enquanto, notei que você tem o hábito de vir a esse lugar sozinho, sempre que você puder vir aqui, vamos conversar e eu vou tentar te explicar o que vim fazer aqui, vou precisar de sua ajuda para isso.
- Você sabe que paciência não é um dos meus fortes né? Você pode ler minha mente e meu passado?
- Só se você permitir. Engraçado esse cara.
- Eu permito contanto que isso não me cause nenhuma dor. Posso ter enlouquecido de vez?
- Não Gabriel, você não enlouqueceu, você se esqueceu que a pouco eu falei dentro de sua mente, mas agora posso observá-la, na verdade já observei ela inteira e conheci sua história, na verdade, esperava que fosse diferente, mas agora entendi porque você está calmo, você já teve grandes experiências certo?
- Se você está vendo tudo isso, eu não poderia negar. Sinto vontade de sorrir, mas não sei se esse ser era engraçado.
- Pode sorrir, agora estamos conectados e estarei sempre aqui na sua cabeça, só cuidado para não confundir minha voz com uma das suas vozes internas certo?
- Vou tentar ao máximo, posso perguntar seu nome?
- Pode perguntar o que você quiser, mas só vou responder o que lhe for conveniente, a princípio, meu nome não importa, você conhece minha aparência, eu conheço a sua, na verdade, conheço toda sua vida, então nomes não seriam importantes para esse momento, concorda?
- Sim, concordo, porém, creio que vou ter que voltar, já estamos aqui a um tempo e preciso ver se minha espoa e meu filho estão bem, afinal, as vezes esqueço que o mundo acabou.
- Faça isso, mas o mundo não acabou, na verdade, ele está apenas começando. Sinto vontade de sorrir pra ele, mas creio que ele precisa que eu seja mais duro.
- Então ok, ser branco de asas, vou te chamar de anjo, é o que eu mais consigo associar na minha cabeça agora, até amanhã, você estará aqui?
- Talvez sim, talvez não, não posso te dar certeza, com essa situação toda, talvez eu precise ver o resto do mundo antes de conversarmos mais.
- Sim, sem problemas, obrigado pela visita, só não demore demais para voltar, minha mente pode confundir isso com um grande sonho.
- Fique tranquilo, leve isso aqui com você, desse jeito você sempre vai saber que esse momento aconteceu. Preciso pegar isso de volta depois.
- Certo, eu gosto muito de pedras, mas essa eu nunca tinha visto antes, creio que ela seja de onde você veio, vou guardar pra você então, sei que ela é importante para você.
- Certo, vá em paz. Sujeito muito engraçado, parece até que ele meu leu meus pensamentos, acho que sinto que terei mais um amigo humano novamente.

Amarelo

- Senhor!
- Diga comandante.
- Soubemos que o mundo foi visitado por um dos seres brancos, ele ainda está na terra, devemos tomar alguma ação?
- Grrrr, não, não é bom entrarmos em confronto com essa nação novamente, embora sejamos melhores, eles sabem de coisas que ainda não sabemos, mas envie alguém para conversar com esse ser, para entender o que ele foi fazer nesse lugar podre.
- Agora mesmo Senhor!

Terra

Que dia, primeiro metade do mundo morre, segundo um ser que eu nunca tinha visto antes aparece e me trata como um irmão mais novo, bom, se ele não tivesse me dado essa pedra estranha eu ainda estaria achando que fiquei louco de vez, acho que essa pedra pode provar para minha mulher que algo aconteceu, mas por enquanto, vou deixar isso como está, ela já está sofrendo demais pelo dia de hoje, sabe que pode ter perdido alguns familiares também e isso não deve ser fácil.
- Amor, voltei.
- Você demorou, aconteceu alguma coisa?
- Não linda, eu estava apenas pensando um pouco nas coisas, você sabe o quanto eu achava que algo assim aconteceria.
- Sim, eu sei lindo, mas não se preocupe, você conseguiu trazer a gente em segurança pra cá e eu fico feliz de ter você perto de mim nesse momento.
- Obrigado amor, mas se a nós tivéssemos ficado lá também, essa hora, seriamos menos que poeiras escuras.
- Sim, mas agradeça por estarmos vivos ainda, podemos ver nosso filho brincar todos os dias nesse lugar e aqui eu sei que não corremos perigo.
- É verdade linda, me diz uma coisa, você não está triste?
- Triste, não tem como não ficar amor, mas sei que fizemos o melhor que podíamos, eu realmente estou feliz em estar viva aqui com você e nosso pequeno.
- Coitado, ele mal consegue entender alguma coisa do que está acontecendo, teremos que pensar em uma forma de contar isso para ele um dia, não sei quantos anos que teremos que ficar aqui.
- Sim amor, mas calma, vamos apenas comer, eu peguei muitas coisas de casa antes de sair para trazer.
- Você disse casa, como será que deve estar nossa “casa” agora?
- Não sei amor, mas sinto que não vamos saber tão cedo.
- Felizmente eu tenho você, o resto, nós vamos tendo de novo com o tempo, vou tentar arrumar o cabo da televisão, quero ver se ainda tem alguma notícia de algum lugar.
- Ok amor, vou terminar de fazer a janta, você só da uma olhada no pequeno antes? Eu coloquei ele no quarto pra dormir, não sei se ele quer alguma coisa.
- Pode deixar amor, vou fazer isso e depois vou ali na parte de fora ver como está o cabo da antena.

Branco

Não sei ao certo como, mas saber que encontrei minha versão inferior é muito gratificante, se esse ser souber do que eu sei agora, pode ser até que ele não compreenda, mas sua áurea roxa me pareceu bem fina, não parece ter grandes maldades, sei que eu devia ter olhado, mas eu ainda preciso manter a ética do lugar que venho, só fico triste por um ser ter que passar por tudo isso nesse lugar, não poder apagar os sentimentos que não lhes são bons, bom, vejo que a destruição é grande, muitos estão fugindo das grandes cidades, com medo de que aconteçam, não consigo sentir todas as energias vivas, mas sinto que mais de 40% das pessoas deixaram esse lugar, eu não gostaria de estar na administração de almas agora, deve estar uma loucura, talvez eu passe por lá para dar uma olhada algum dia desses, mas antes, preciso saber se existem lugares para executar meu plano, será que esse plano vai dar certo? Será que eles vão entender no final todo o significado dele? Sinto que o trabalho aqui será grande, mas eu estava procurando mesmo alguma coisa pra me divertir, não posso dizer que o tédio não é bom, mas precisava me mover um pouco.

Roxo

- Olá, em que posso ajudar?
- Recebemos uma energia dizendo que um ser branco visitou um de nossos seres terrestres, conforme você previu.
- Sim, esse contato será importante para a nova geração que está por vir, fico feliz que ele já tenha chegado, não consegui prever como foi esse encontro, você poderia me descrever?
- Ambos conversaram, se entenderem, nosso ser terrestre entendeu bem, conforme você havia falado, sua meditação estava já nos altos portões, por isso não foi difícil compreender a experiência vivida.
- Ótimo, ótimo, vamos aguardar para ir conversar com ele também, finalmente poderei reencontrar meu irmão, embora eu ainda não possa devolver as memórias dele, será legal revê-lo depois de tantos séculos.
- Você disse séculos? Eu não sabia que ele estava lá a tanto tempo.
- Sim, ele escolheu passar 4 gerações inteiras naquele lugar, queria voltar para cá com um conhecimento maior.
- Nossa, deve ser cansativo, passar por aquele lugar várias vezes, ele não descansou nenhuma vez?
- Não, 4 contínuas vezes, fiquei orgulhoso dessa atitude, embora eu sinta uma grande dor em meu coração de permitir.
- Sim, eu compreendo, ainda aguardo a chegada da minha companheira e sei o quanto dói, isso porque ela foi passar apenas metade de um ciclo lá.
- E como ela está?
- Está bem, progredindo muito, sinto que nosso reencontro será cheio de mudanças.
- Que assim seja.
- Que assim seja Kulyel.

Branco

Consigo sentir que minha matéria envelhece rápido, deve ser horrível passar por isso nesse lugar, mas faz parte do aprendizado deles, é uma grande pena que eu não possa ajudar esses que tanto gritam pedindo ajuda nesse lugar, fico pensando no que meus irmãos fariam, sinto que o Gabriel deve sentir esse peso todos os dias, não deve ser fácil ser mestiço nesse lugar, ainda mais com tanta energia ruim cobrindo tudo, parece que essa energia ruim que distancia a atenção da fonte foi colocada aqui de propósito, na verdade, creio que seja isso mesmo, os seres amarelos vem muito a esse lugar, e isso eu sei no que da e falando do diabo.
- Olá Galopos, como vai?
- Não me venha com cumprimentos, eu só quero saber o que um ser como você está fazendo nesse lugar?
- Bom, como sempre, dispensam a educação, eu senti vontade de vir, algum problema?
- Não, nenhum, meu mestre pediu para eu vir perguntar, apenas para saber se poderíamos ajudar em algo.
- Seu mestre oferecendo ajuda? Obrigado Galopos, eu não consegui rir desde quando cheguei aqui, mas essa foi uma ótima piada.
- Você sabe que meu mestre é...
- Galopos, dispense essa atitude, sabemos como seu mestre é, mas diga a ele que eu estou aqui em uma missão dada dos meus superiores, então ele não pode intervir ou acabará tendo problemas por interferir no divino novamente.
- Vou avisá-lo, mas te lembro que meu mestre prometeu a energia que não traria problemas para sua nação.
- Sim, Galopos, eu estava presente no dia do seu julgamento, só espero que ele mantenha a palavra.
- Ele sempre mantém!
- Que assim seja Galopos, que seu retorno seja feito de luz.
- Devo entender isso como ofensa?
- Não Galopos, me perdoe, essa é só uma força de expressão, se lhe couber melhor, que seu retorno seja escuro e sem luzes para machucar seus olhos.
- Certo, estou indo.
Seres amarelos, sempre rudes, me pergunto como alguns seres gostam de migrar para sua nação, porém, cada um tem sua escolha, mas veja o que suas armas fizeram com esse lugar, não sei se isso parece ser justo como foi prometido, porém, a escolha sempre será livre, vejo que muitos aqui lutaram por poder, sinto cada traço da história a cada metro em que eu estou voando, são tantas guerras pelo controle, tantas guerras por motivos fracos, guerras e mais guerras, porque uma nação tão pequena gosta tanto de guerrear, enfim, faz parte da evolução, espero que a partir do plano executado isso tenda a diminuir, depois de aumentar muito é claro.
- Gabriel!
- Sim, estou focado.
- Como está a situação ai? Vemos que uma massa escura de energia ruim está cobrindo todo esse lugar.
- Fique calmos, ainda tem muita vida para inspirar a evolução aqui, mas foi mais uma daquelas guerras por algum motivo do qual eu não sei se quero saber.
- Precisa de alguma ajuda? Vimos que um ser amarelo se aproximou de você, Galopos se a energia foi bem analisada.
- Sim, foi ele mesmo, ele só queria saber o que eu vim fazer aqui, mas fiquem em paz, está tudo bem, vocês sabem que não tem nada que possa me ferir aqui, mas se eu me sentir sozinho demais, fiquem tranquilos que mandarei energias.
- Gabriel, você sabe que..
- Sim Ezu, eu sei que essa radiação toda atrapalha a comunicação, mas se eu não responder em 3 dias, mande 3 guias para cá, ao chegar vão saber onde estou, por enquanto, nenhuma energia humana me afetou, até gostaria de falar que encontrei meu eu inferior aqui embaixo, por “coincidência”.
- Acredita nisso agora?
- Não, continuo cético a isso, mas foi engraçado, estamos a milhares de anos de distância de tempo, mas consegui me ver no passado, foi interessante.
- Você sabe que...
- Sim Ezu, não contarei para ele quem ele é, mas confesso que eu acho que ele já saiba um pouco, não se preocupe irmão, estou em paz, caso sinta-se muito preocupado, faça a viagem para cá também, mas já te adianto, com seu centro de energia mole do jeito que é, sinto que não resistiria e começaria a chorar.
- Você me vê como um ser muito fraco Gabe.
- Não Ezu, você não é fraco, mas bondade demais torna a maldade um vírus letal.
- Eu sei bem como é, já nem me lembro direito como é a energia desse lugar.
- Vou te mandar um pouco dela dentro do seu receptor, só tire com cuidado, para não sofrer demais.
- Obrigado, boa passagem.
- Que assim seja Ezu.
- Que assim seja irmão.