Terra
Era manhã de 16 de
dezembro, eu estava sentado ao lado de umas pessoas que falavam bem alto, meus
pensamentos estavam bastante distantes, eu não sentia que eu pertencia a aquele
lugar, sabe aquela sensação que domina você do nada, que te faz pensar que você
não devia estar ali, mas ao mesmo tempo, você gosta de estar fazendo algo
diferente, no meu caso, eu estava apenas sentado tomando café em um lugar que
eu nunca havia estado antes, para falar a verdade, eu nem gostava muito de
café, estava aprendendo a colher seus benefícios energéticos, o dia parecia
bom, o sol radiava no céu, com bastante azul, daqueles que te fazem ter dor de
cabeça se olhar diretamente sem fechar um pouco os olhos e foi então, que eu
ouvi, uma rajada muito alta, que fez a mesa de vidro a minha frente vibrar, a
princípio eu achei que não era nada demais, tantos aviões no mundo, poderia ser
algum avião caça que teria passado, até porque desse assunto eu entendia um
pouco, mas não liguei muito, por mais estranho que parecesse, arrumei minhas
coisas, me levantei e me coloquei a caminho de casa, eu sabia que tinham muitas
coisas me esperando por lá.
Branco
Estava eu a
observar um pequeno ponto azul, naquele lugar que chamam de Solaris, não me
interessava muito por esse lugar, era bastante complicado, um lugar cheio de
mentiras, cheio de problemas, cujo o qual eu só observada por 'tédio', mas
aquele lugar azul, que quase me fugia da visão, começou a brilhar mais, logo
pensei que alguma coisa havia acontecido e resolvi focar meu olho direito naquele
lugar. Foi então que eu vi, um grande clarão surgindo de vários pontos do
pequeno lugar azul, algo que eu só tinha visto uma vez, já há muito tempo, mas
aquilo me preocupou, mesmo sabendo que é um lugar que eu não me interessava
muito, eu quis investigar de perto, peguei minha bagagem, avisei meus
superiores e quis descer até lá.
Terra
No caminho para
casa, senti alguns pequenos tremores, logo lembrei-me do dia em que um
terremoto conseguiu fazer minha cidade tremer, que chegou até derrubar algumas
coisas da minha cristaleira, achei engraçado, já que meu país não tem
terremotos e felizmente ninguém se feriu, mas aqueles tremores, estavam
aumentando, ficando estranhos e como eu estava de fones de ouvido, não tirei
minha concentração do caminho, eu estava a caminhar e caminhar, mas a ansiedade
começou a tomar conta do meu ser, fiquei com o coração palpitando, pensei: -
Alguma coisa aconteceu, mas não sabia o que era e como minha casa estava perto,
resolvi chegar lá logo.
Ao chegar em casa,
fiz minha rotina, tirei meus sapatos e minhas roupas e fui direto para a cama,
ao ligar a televisão, percebo que um dia que eu sentia que iria chegar enquanto
eu estivesse vivo, finalmente tinha chegado, uma guerra, uma das maiores que
poderiam ter começado nesse lugar, e as informações estavam bastante confusas,
no mesmo segundo peguei meu computador, comecei a revirar todos os meios de
notícias e vi que algumas armas nucleares teriam sido disparadas em alguns
países em crise, me senti um pouco sortudo de não estar no lugar onde aconteceu
tudo isso, mas ao mesmo tempo, me senti triste, de alguma forma, eu sabia que
alguma coisa assim iria acontecer e eu estaria aqui para ver, eu só não sabia o
que ia ser a partir de agora, mas confesso, naquele segundo me senti um pouco
melhor, pensei que muitas pessoas iriam parar de sofrer em um lugar como esse,
já que eu não sou muito fã dele também e voltei a pesquisar, as notícias diziam
bilhares de mortos, e a palavra "bilhares" me assustou profundamente,
foi quando eu me dei conta de que aquilo era global, de que eu não estava
seguro, não era mais uma guerra de um país contra o outro, era provavelmente
uma guerra nuclear, aquelas que todos sempre tiveram medo de acontecer e com os
ânimos de países egocêntricos muito elevados, coisas ruins foram feitas e logo
pensei em procurar minha mulher e meu filho, que tinham ido ao mercado, senti
que queria estar perto deles e não pensei nem meia vez antes de pegar o
telefone e ligar desesperado. Ao saber que ambos estavam bem, eu pedi para ela
vir para casa, sentia que precisávamos ficar juntos e a ansiedade foi tão
grande, que sai ao encontro dela.
Branco
A descida é bem
dolorida, muito rápida, parece que seu espírito vai se dividir ao meio, mas faz
parte, afinal, mesmo sendo tão rápido, as distâncias deixam tudo muito tedioso,
quando cheguei a esse lugar azul, senti uma energia muito forte, porém não boa,
aquilo me deixava com medo, com um sentimento completamente diferente do que eu
tive desde a última vez que eu estive aqui, eu sabia que era um lugar cheio de
problemas e dores, mas aquela dor, era muito forte para ser normal, como de
costume, desci no deserto, para não deixar vestígios, já estava me adaptando a
atmosfera local e tomando forma, para ninguém estranhar minha presença, mas eu
sentia que alguma coisa tinha dado muito errado. Fui caminhando em direção a
primeira cidade, passei pelas pirâmides, me lembro de tempos complicados, porém
divertidos que vivemos nesse lugar, estava muito diferente, cidades gigantes
tinham se levantado próximas as pirâmides, mas entendi que aquilo fazia parte
do crescimento do berço de Solaris, notei também que as pessoas não falavam
mais o idioma que ensinamos, eles tinham modificado muitas coisas, mas como era
um local conhecido, algumas coisas eu já consegui entender, eu via sinais, de
várias cores por todos os lados, logo notei que eles começaram a evoluir
tecnologicamente, fiquei feliz, pois a tecnologia lhes daria um bom futuro,
infelizmente foi assim que pensei naquele momento. Continuei seguindo, perguntando
algumas informações no idioma que eu conseguia manter naquele momento, logo me
mostravam algumas máquinas de sua época e eu consegui acesso ao que eu
precisava, uma guerra, eu diria "a guerra" desse pequeno lugar havia
começado e senti que grandes mudanças estavam por vir, mas antes, eu precisava
encontrar um ser, alguém com quem eu pudesse me comunicar de igual para igual,
será que existem seres aqui assim ainda?
Terra
Quando os
encontrei, senti que eu estava mais seguro, avisei a minha mulher do desastre
que havia acontecido, mas como eu sempre falava sobre isso, ela sentiu a mesma
tristeza que eu, nós dois já tínhamos um plano, sair da cidade quando algo ruim
assim acontecesse e ir para um lugar mais calmo, que tivesse acesso a
informações do mundo, mas onde as pessoas não pudessem nos machucar, foi assim,
que começamos a arrumar nossas coisas para partir, embora eu sentia que
estivesse preparado para aquilo a vida toda, a tristeza me tomava a cada
segundo, eu percebi que aquele lugar que eu tanto odiei um dia começou a se
tornar meu lar, e senti pelas várias pessoas que estavam sofrendo ao redor do
mundo, porém, eu devia me apressar, afinal, eu morava em um lugar com grande
população e seria mais inteligente sair daqui antes que mais uma bomba venha
destruir um grande local.
Amarelo
Ao perceber o quão
fúteis e inúteis são aqueles seres, nós já sabíamos que o final seria esse,
armas, armas e mais armas, era tudo o que eles queriam, as armas para dominar
tudo, o conhecimento da tecnologia bélica que tanto almejavam, pobres seres,
inúteis, muito inúteis, agora apreciam a sua própria desgraça, finalmente a
terra se tornava um lugar vulnerável a uma nova conquista, a uma nova ordem, a
um novo poder, mas tenhamos calma, a desgraça daquele lugar apenas começou, nós
ainda vamos tirar proveito do mal que eles fazem a eles mesmos, preparem um
transporte para aquele lugar nojento, estarei lá, preciso conversar com alguns
insetos que tenho como aliados naquele lugar.
Branco
Senti uma áurea
diferente, mas estava muito distante dali, parece que o horror que tomava todo
este planeta não afetava tanto algumas pessoas, algumas pareciam saber que algo
ruim assim poderia acontecer e pareciam "preparadas" para isso, mesmo
sem ter a certeza, confesso que isso era provável mas nem eu sabia que algo tão
grande assim aconteceria, talvez eu devesse estudar mais as fontes futuras, mas
são assuntos chatos demais e pouco certos para eu me interessar, foco, eu
preciso de foco, preciso escolher uma dessas pessoas "preparadas"
para tentar conversar e me atualizar sobre esse lugar de um ponto de vista
humano, afinal, já fazem mais de 1 milhão de anos que não passo por esse lugar,
ou talvez 10 mil anos, eu não sei bem como funciona o tempo aqui, na verdade,
não sei nem como esses seres conseguem viver com tanta distorção no tempo, ou
talvez seja o lugar de onde eu venho que tenha, esses assuntos sempre deixam
minha cabeça completamente confusa, já dizia meu guia, eu preciso realmente
estudar, agora, como faço pra criar um campo de levitação nessa gravidade que
eu não me recordo mais como funciona?
Terra
Vi a cidade que eu
mais gostava de longe, senti uma grande tristeza ao deixá-la, não sentia que
havia algum risco de alguma bomba cair nela, sempre pensei no meu país como um
paraíso para todos, recursos suficientes para muitas pessoas, não acredito que
alguma nação faça mal para esse lugar, mas, nunca se sabe, eu era físico
nuclear, sabia dos riscos da radiação e como ela se espalhava, tinha medo de
algum mal acontecer para minha família, então, o melhor era mesmo partir. Uma
coisa diferente do que eu sempre pensei aconteceu, minha família estava
tranquila, eu finalmente havia conquistado a confiança deles para me seguirem
onde eu fosse, sentia que eles acreditavam que eu sabia o que estava fazendo,
foi quando senti um grande tremor, algo completamente diferente do que eu tinha
sentido antes e foi ai que eu notei que eu estava errado, a grande cidade da
qual eu amava muito, também tinha sido alvo de uma explosão, por sorte, nessa
hora eu já estava longe demais para algo me fazer mal, mas ao ver as notícias
no meu celular, senti que muitos amigos próximos tinham deixado esse lugar
naquele momento e a chance de reencontrá-los seria muito pequena, foi então que
comecei a chorar, me virei para minha esposa e perguntei: - Porquê? Porquê os
seres humanos são assim, pessoas ficam guerreando umas contras as outras e
porque os inocentes é que pagam? Mas não valia a pena chorar, o mundo sempre
esteve destinado ao sofrimento pelo ego que as pessoas tanto sustentavam,
pessoas nessa época matavam até por conta de um copo de água, uma briga de bar,
uma discussão sem valor, acho que talvez, mesmo que alguma coisa acontecesse
com a gente nessa viagem, eu não me importaria, eu sabia que pelo menos muitos
que sofriam aqui tinham já deixado esse lugar para descansar.
Branco
Senti uma energia
próxima a um dos seres que eu notei estarem calmos, aquilo me deixou curioso,
porque esse ser que estava no meio de toda confusão não estava com medo?
Afinal, eu aprendi que esse lugar é onde as pessoas mais tem medo em Solaris,
vivem com medo da sombra, acho que é o que dizem por aqui, vou ter que me mover
até essa pessoa, sinto que nosso encontro pode ser muito útil para o que eu vim
fazer aqui. Finalmente consegui controlar essa matéria pesada e desenvolver um
mecanismo para que eu possa me mover mais depressa, lembro que nos chamavam de
"anjos", um nome que para eles deve ter algum significado com asas, o
que para nós, são só atalhos para chegar em algum lugar mais rápido quando se
tem matéria. Vejo como esse lugar ficou lindo, o oceano está um pouco
diferente, parece que escureceu mais, porém, me lembro de que os seres jogavam
dejetos em sua fonte de vida, o que a tornava ruim, coma demanda populacional
crescendo, sinto que isso finalmente estava começando a surtir efeitos grandes,
sinto que essas cidades destruídas já estavam mortas, de alguma forma, parece
que algo deu muito errado por aqui, mas em meio a toda essa destruição e tantas
mortes, não vejo como entender a lógica desse local, acho que demorei demais
para voltar aqui, sinto que meus irmãos também sentiriam isso se vissem como
esse lugar ficou. Acabo de me lembrar, aqui também tinham seres pequenos, o que
eles chamam de animais irracionais, infelizmente eles pagam por escolhas
humanas, é uma pena, alguns desses seres pequenos me alegravam em dias tristes
aqui nesse planeta, bom, isso já foi, agora é tentar entender todo esse caos na
visão de alguém que possa me contar, não posso me desviar desse caminho,
gostaria de dar uma volta e ver o que restou dessa grande catástrofe, mas acho
que não preciso fazer isso agora, sinto que o que sobrou, ainda dá para fazer o
que eu estou pensando.
Amarelo/Terra
- Então me diga, o
que foi que vocês arrumaram dessa vez?
- Senhor!
Abaixando a cabeça em tom de reverência
- Eu quero
entender qual foi o motivo de vocês terem destruído mais da metade do planeta
com as armas que ensinamos vocês a usar no passado, porque vocês fizeram isso?
Não que eu discorde, afinal, vivemos com orgulho do material que produzimos,
mas só me diga, o que aconteceu?
- Senhor, já tem
algum tempo que algumas coisas vem acontecendo, esse lugar estava ficando muito
cheio, alguns recursos estavam acabando, outros se rebelam contra o poder,
alguns até conseguiram grandes feitos, achamos melhor em comunhão com outros
líderes tornar esse lugar um pouco melhor.
- Melhor? Como
você pode dizer melhor, nós avisamos que nossas armas deixam uma grande
quantidade de radiação, lugares dos quais vocês as jogaram não poderão mais ser
habitados por sua raça.
- Sabemos senhor,
mas fomos estratégicos nesses pontos, pensamos em todo mal que poderíamos
causar a natureza, então só miramos em grandes civilizações, para diminuir a
quantidade de pessoas que estavam aumentando rápido demais.
- Bom, não podemos
intervir nesses assuntos, afinal, vocês já estão aqui há muitos anos, devem
saber o que fazem, mas me digam, o que farão agora?
- Tentaremos
colocar uma ordem nova senhor, algo que deixe as pessoas mais unidas, voltadas
a um único propósito.
- Você diz que
quer tentar controlar seres que nascem para não serem controlados, já dizemos
no passado que só o medo é que pode fazer isso, mas tudo em grande excesso pode
perder o equilíbrio, logo, vocês podem ter exagerado na quantidade de mortos,
pessoas vão sentir essa dor e da dor o medo vira ódio e o ódio é incontrolável.
- Sabemos dos
riscos Senhor, só queremos uma forma de tentar resgatar esse lugar, foram anos
planejando algo desse tamanho.
- Bom, se você
diz, então está feito, eu estou passando apenas para dizer que nosso suprimento
de armas de nível 8 já está disponível, mas vejo que não vão precisar disso por
enquanto, então eu volto em uma outra época, quem será o próximo no seu lugar?
- Ainda não
decidimos Senhor, mas enviaremos os sinais para avisá-los.
- Bom, que assim seja
então, vou partir, esse lugar está fedendo a morte e essa energia ruim está me
deixando irritado.
- Como quiser
Senhor, que o Senhor tenha uma ótima viagem de volta!
- Eu sempre tenho!
Seres nojentos,
sentem-se donos do mundo, mas ao ver um ser superior, ficam tratando com tanto
respeito falso que me da vontade de vomitar, quero partir logo desse lugar, ele
realmente está fedendo demais.
Terra
Finalmente
chegamos, bom, aqui não tem muito o que fazer, só realmente tentar descansar
depois de todo esse desastre, espero que essa energia ruim que estou sentindo
não seja mais um pressentimento de algo que está por vir, mas não, esse lugar é
seguro, eu planejei estar aqui por anos, ainda bem que meu pai sempre me ensinou
a pensar dez vezes em possibilidades antes de fazer qualquer coisa, vejo que as
ferramentas que deixei aqui continuam do mesmo jeito, já é tarde, mas sinto que
amanhã preciso deixar esse lugar com minha cara, são tantos anos que passei
aqui na infância e já fazem tantos anos que eu não venho mais aqui, preciso
pensar que a comida agora não pode mais ser comprada, porém as hortas desse
lugar ainda estão em bom estado, de fome não vamos morrer, fico feliz também
que a internet funcione aqui, embora já notei que mesmo que o símbolo apareça
no celular, nenhuma página está sendo aberta, preciso consertar a antena, acho
que vamos voltar aqui a era da televisão sem internet e aguardar as notícias do
mundo calmamente, mas antes, vou subir naquele monte, ele sempre me trouxe paz,
vou só dar um beijo em minha mulher e ver se meu filho quer ir comigo, afinal,
ele ainda não conhece o pôr-do-sol daqui.
Branco
Perfeito, esse ser
já está se aproximando e parece estar distante de todas as pessoas, acho que
poderei chegar e conversar com ele tranquilamente, o que paira minha cabeça
agora é se mantenho as asas ou não, lembro de uma vez no passado que apareci
com asas para um desses seres e ele reagiu de uma forma não tão agradável, mas
sinto que o coração desse ser está em paz, o que me intriga muito é como alguém
pode estar ciente de tudo o que está acontecendo e manter tanto a paz? Bom, vou
parar de pensar e me aproximar com cuidado, vejo que tem uma grande árvore ali
e como já esta anoitecendo, posso observar um pouco esse ser antes de me
apresentar, acho que aqui está bom, ele não vai conseguir me ver, só preciso
diminuir o brilho da minha áurea, afinal, sinto que esse ser tem a visão
aberta, talvez ele já até saiba que estou indo até ele, talvez ele possa sentir
energias no ar, mas em breve eu tiro todas essas dúvidas.
Terra
Uma criança tão
pequena não se interessa tanto pelo pôr-do-sol,
tudo bem, acho que um dia ele vai puxar essa vontade do pai dele, mas
mesmo assim, acho que ver o pôr-do-sol daqui vai me fazer muito bem, quero
apenas sentir essa energia e sair renovado daqui, não sei como vou conseguir
dormir hoje, mas sinto que está tudo bem, será que sou uma pessoa ruim? Por
estar tão tranquilo e tão preparado para tudo isso que aconteceu no mundo?
- Não, você não é
uma pessoa ruim.
- Quem disse isso?
- Sou eu, alguém
que eu sinto que você já sabe que está aqui, mas antes de me apresentar,
resolvi falar com você em sua cabeça, dessa vez percebo que você sabe que está
bem lúcido não é?
- Humm, ok, você
pode me provar que você não é uma das vozes interiores que eu crio?
- Seria uma prova
se eu aparecesse de trás daquela árvore que você está olhando agora com duas
asas gigantes?
- Seria, mas
calma, eu preciso me preparar para isso, sou uma pessoa muito medrosa, e só quero
entender o porque um ser com sua energia veio falar comigo.
- Calma Gabriel,
eu sei tudo sobre você, na verdade, até mais do que eu deveria saber, ao me
aproximar de você eu senti sua energia e entendi porque de tantos eu escolhi
você para conversar, você sabe que sempre acreditou em coisas assim e sabia
também que era provável que algum ser superior aparecesse em meio a um desastre
muito grande.
- Sim, faz
sentido, por favor, apareça para eu vê-lo, vou tentar controlar minha ansiedade
para não sentir medo.
- Pois bem, esse
sou eu, não precisa se preocupar, sou um ser do bem e não tenho nada a ver com
o que aconteceu aqui, mas precisamos muito conversar.
- Finalmente
entendo que eu não estava errado sobre acreditar em algumas coisas assim, eu
realmente não estou tendo uma alucinação? Posso chamar de estresse
pós-traumático depois de tantos problemas que surgiram no dia de hoje.
- Não Gabriel, me
diga como posso te provar que sua mente está sã.
- Para falar a
verdade, depois de tudo isso, tanto faz se fiquei maluco ou não, só me diga o
porque está aqui, se puder, por favor.
- Bom, isso já vai
ser uma longa história, o que posso te dizer agora é que como eu te vi primeiro
e você me viu primeiro, eu só posso conversar com você por enquanto, notei que
você tem o hábito de vir a esse lugar sozinho, sempre que você puder vir aqui,
vamos conversar e eu vou tentar te explicar o que vim fazer aqui, vou precisar
de sua ajuda para isso.
- Você sabe que
paciência não é um dos meus fortes né? Você pode ler minha mente e meu passado?
- Só se você
permitir. Engraçado esse cara.
- Eu permito
contanto que isso não me cause nenhuma dor. Posso ter enlouquecido de vez?
- Não Gabriel,
você não enlouqueceu, você se esqueceu que a pouco eu falei dentro de sua
mente, mas agora posso observá-la, na verdade já observei ela inteira e conheci
sua história, na verdade, esperava que fosse diferente, mas agora entendi
porque você está calmo, você já teve grandes experiências certo?
- Se você está
vendo tudo isso, eu não poderia negar. Sinto vontade de sorrir, mas não sei se
esse ser era engraçado.
- Pode sorrir,
agora estamos conectados e estarei sempre aqui na sua cabeça, só cuidado para
não confundir minha voz com uma das suas vozes internas certo?
- Vou tentar ao
máximo, posso perguntar seu nome?
- Pode perguntar o
que você quiser, mas só vou responder o que lhe for conveniente, a princípio,
meu nome não importa, você conhece minha aparência, eu conheço a sua, na
verdade, conheço toda sua vida, então nomes não seriam importantes para esse
momento, concorda?
- Sim, concordo,
porém, creio que vou ter que voltar, já estamos aqui a um tempo e preciso ver
se minha espoa e meu filho estão bem, afinal, as vezes esqueço que o mundo
acabou.
- Faça isso, mas o
mundo não acabou, na verdade, ele está apenas começando. Sinto vontade de
sorrir pra ele, mas creio que ele precisa que eu seja mais duro.
- Então ok, ser
branco de asas, vou te chamar de anjo, é o que eu mais consigo associar na
minha cabeça agora, até amanhã, você estará aqui?
- Talvez sim,
talvez não, não posso te dar certeza, com essa situação toda, talvez eu precise
ver o resto do mundo antes de conversarmos mais.
- Sim, sem
problemas, obrigado pela visita, só não demore demais para voltar, minha mente
pode confundir isso com um grande sonho.
- Fique tranquilo,
leve isso aqui com você, desse jeito você sempre vai saber que esse momento
aconteceu. Preciso pegar isso de volta depois.
- Certo, eu gosto
muito de pedras, mas essa eu nunca tinha visto antes, creio que ela seja de
onde você veio, vou guardar pra você então, sei que ela é importante para você.
- Certo, vá em
paz. Sujeito muito engraçado, parece até que ele meu leu meus pensamentos, acho
que sinto que terei mais um amigo humano novamente.
Amarelo
- Senhor!
- Diga comandante.
- Soubemos que o
mundo foi visitado por um dos seres brancos, ele ainda está na terra, devemos
tomar alguma ação?
- Grrrr, não, não
é bom entrarmos em confronto com essa nação novamente, embora sejamos melhores,
eles sabem de coisas que ainda não sabemos, mas envie alguém para conversar com
esse ser, para entender o que ele foi fazer nesse lugar podre.
- Agora mesmo
Senhor!
Terra
Que dia, primeiro
metade do mundo morre, segundo um ser que eu nunca tinha visto antes aparece e
me trata como um irmão mais novo, bom, se ele não tivesse me dado essa pedra
estranha eu ainda estaria achando que fiquei louco de vez, acho que essa pedra
pode provar para minha mulher que algo aconteceu, mas por enquanto, vou deixar isso
como está, ela já está sofrendo demais pelo dia de hoje, sabe que pode ter
perdido alguns familiares também e isso não deve ser fácil.
- Amor, voltei.
- Você demorou,
aconteceu alguma coisa?
- Não linda, eu
estava apenas pensando um pouco nas coisas, você sabe o quanto eu achava que
algo assim aconteceria.
- Sim, eu sei
lindo, mas não se preocupe, você conseguiu trazer a gente em segurança pra cá e
eu fico feliz de ter você perto de mim nesse momento.
- Obrigado amor,
mas se a nós tivéssemos ficado lá também, essa hora, seriamos menos que poeiras
escuras.
- Sim, mas
agradeça por estarmos vivos ainda, podemos ver nosso filho brincar todos os
dias nesse lugar e aqui eu sei que não corremos perigo.
- É verdade linda,
me diz uma coisa, você não está triste?
- Triste, não tem
como não ficar amor, mas sei que fizemos o melhor que podíamos, eu realmente
estou feliz em estar viva aqui com você e nosso pequeno.
- Coitado, ele mal
consegue entender alguma coisa do que está acontecendo, teremos que pensar em
uma forma de contar isso para ele um dia, não sei quantos anos que teremos que
ficar aqui.
- Sim amor, mas
calma, vamos apenas comer, eu peguei muitas coisas de casa antes de sair para
trazer.
- Você disse casa,
como será que deve estar nossa “casa” agora?
- Não sei amor,
mas sinto que não vamos saber tão cedo.
- Felizmente eu
tenho você, o resto, nós vamos tendo de novo com o tempo, vou tentar arrumar o
cabo da televisão, quero ver se ainda tem alguma notícia de algum lugar.
- Ok amor, vou
terminar de fazer a janta, você só da uma olhada no pequeno antes? Eu coloquei
ele no quarto pra dormir, não sei se ele quer alguma coisa.
- Pode deixar
amor, vou fazer isso e depois vou ali na parte de fora ver como está o cabo da
antena.
Branco
Não sei ao certo
como, mas saber que encontrei minha versão inferior é muito gratificante, se
esse ser souber do que eu sei agora, pode ser até que ele não compreenda, mas
sua áurea roxa me pareceu bem fina, não parece ter grandes maldades, sei que eu
devia ter olhado, mas eu ainda preciso manter a ética do lugar que venho, só
fico triste por um ser ter que passar por tudo isso nesse lugar, não poder
apagar os sentimentos que não lhes são bons, bom, vejo que a destruição é
grande, muitos estão fugindo das grandes cidades, com medo de que aconteçam,
não consigo sentir todas as energias vivas, mas sinto que mais de 40% das
pessoas deixaram esse lugar, eu não gostaria de estar na administração de almas
agora, deve estar uma loucura, talvez eu passe por lá para dar uma olhada algum
dia desses, mas antes, preciso saber se existem lugares para executar meu
plano, será que esse plano vai dar certo? Será que eles vão entender no final
todo o significado dele? Sinto que o trabalho aqui será grande, mas eu estava
procurando mesmo alguma coisa pra me divertir, não posso dizer que o tédio não
é bom, mas precisava me mover um pouco.
Roxo
- Olá, em que
posso ajudar?
- Recebemos uma
energia dizendo que um ser branco visitou um de nossos seres terrestres,
conforme você previu.
- Sim, esse
contato será importante para a nova geração que está por vir, fico feliz que
ele já tenha chegado, não consegui prever como foi esse encontro, você poderia
me descrever?
- Ambos
conversaram, se entenderem, nosso ser terrestre entendeu bem, conforme você
havia falado, sua meditação estava já nos altos portões, por isso não foi
difícil compreender a experiência vivida.
- Ótimo, ótimo,
vamos aguardar para ir conversar com ele também, finalmente poderei reencontrar
meu irmão, embora eu ainda não possa devolver as memórias dele, será legal
revê-lo depois de tantos séculos.
- Você disse
séculos? Eu não sabia que ele estava lá a tanto tempo.
- Sim, ele
escolheu passar 4 gerações inteiras naquele lugar, queria voltar para cá com um
conhecimento maior.
- Nossa, deve ser cansativo,
passar por aquele lugar várias vezes, ele não descansou nenhuma vez?
- Não, 4 contínuas
vezes, fiquei orgulhoso dessa atitude, embora eu sinta uma grande dor em meu
coração de permitir.
- Sim, eu
compreendo, ainda aguardo a chegada da minha companheira e sei o quanto dói,
isso porque ela foi passar apenas metade de um ciclo lá.
- E como ela está?
- Está bem,
progredindo muito, sinto que nosso reencontro será cheio de mudanças.
- Que assim seja.
- Que assim seja
Kulyel.
Branco
Consigo sentir que
minha matéria envelhece rápido, deve ser horrível passar por isso nesse lugar,
mas faz parte do aprendizado deles, é uma grande pena que eu não possa ajudar
esses que tanto gritam pedindo ajuda nesse lugar, fico pensando no que meus
irmãos fariam, sinto que o Gabriel deve sentir esse peso todos os dias, não
deve ser fácil ser mestiço nesse lugar, ainda mais com tanta energia ruim
cobrindo tudo, parece que essa energia ruim que distancia a atenção da fonte
foi colocada aqui de propósito, na verdade, creio que seja isso mesmo, os seres
amarelos vem muito a esse lugar, e isso eu sei no que da e falando do diabo.
- Olá Galopos,
como vai?
- Não me venha com
cumprimentos, eu só quero saber o que um ser como você está fazendo nesse
lugar?
- Bom, como
sempre, dispensam a educação, eu senti vontade de vir, algum problema?
- Não, nenhum, meu
mestre pediu para eu vir perguntar, apenas para saber se poderíamos ajudar em
algo.
- Seu mestre
oferecendo ajuda? Obrigado Galopos, eu não consegui rir desde quando cheguei
aqui, mas essa foi uma ótima piada.
- Você sabe que
meu mestre é...
- Galopos,
dispense essa atitude, sabemos como seu mestre é, mas diga a ele que eu estou
aqui em uma missão dada dos meus superiores, então ele não pode intervir ou
acabará tendo problemas por interferir no divino novamente.
- Vou avisá-lo,
mas te lembro que meu mestre prometeu a energia que não traria problemas para
sua nação.
- Sim, Galopos, eu
estava presente no dia do seu julgamento, só espero que ele mantenha a palavra.
- Ele sempre
mantém!
- Que assim seja
Galopos, que seu retorno seja feito de luz.
- Devo entender
isso como ofensa?
- Não Galopos, me
perdoe, essa é só uma força de expressão, se lhe couber melhor, que seu retorno
seja escuro e sem luzes para machucar seus olhos.
- Certo, estou
indo.
Seres amarelos,
sempre rudes, me pergunto como alguns seres gostam de migrar para sua nação,
porém, cada um tem sua escolha, mas veja o que suas armas fizeram com esse
lugar, não sei se isso parece ser justo como foi prometido, porém, a escolha sempre
será livre, vejo que muitos aqui lutaram por poder, sinto cada traço da
história a cada metro em que eu estou voando, são tantas guerras pelo controle,
tantas guerras por motivos fracos, guerras e mais guerras, porque uma nação tão
pequena gosta tanto de guerrear, enfim, faz parte da evolução, espero que a
partir do plano executado isso tenda a diminuir, depois de aumentar muito é
claro.
- Gabriel!
- Sim, estou
focado.
- Como está a
situação ai? Vemos que uma massa escura de energia ruim está cobrindo todo esse
lugar.
- Fique calmos,
ainda tem muita vida para inspirar a evolução aqui, mas foi mais uma daquelas
guerras por algum motivo do qual eu não sei se quero saber.
- Precisa de
alguma ajuda? Vimos que um ser amarelo se aproximou de você, Galopos se a
energia foi bem analisada.
- Sim, foi ele
mesmo, ele só queria saber o que eu vim fazer aqui, mas fiquem em paz, está
tudo bem, vocês sabem que não tem nada que possa me ferir aqui, mas se eu me
sentir sozinho demais, fiquem tranquilos que mandarei energias.
- Gabriel, você
sabe que..
- Sim Ezu, eu sei
que essa radiação toda atrapalha a comunicação, mas se eu não responder em 3
dias, mande 3 guias para cá, ao chegar vão saber onde estou, por enquanto,
nenhuma energia humana me afetou, até gostaria de falar que encontrei meu eu
inferior aqui embaixo, por “coincidência”.
- Acredita nisso
agora?
- Não, continuo
cético a isso, mas foi engraçado, estamos a milhares de anos de distância de
tempo, mas consegui me ver no passado, foi interessante.
- Você sabe que...
- Sim Ezu, não
contarei para ele quem ele é, mas confesso que eu acho que ele já saiba um
pouco, não se preocupe irmão, estou em paz, caso sinta-se muito preocupado,
faça a viagem para cá também, mas já te adianto, com seu centro de energia mole
do jeito que é, sinto que não resistiria e começaria a chorar.
- Você me vê como
um ser muito fraco Gabe.
- Não Ezu, você
não é fraco, mas bondade demais torna a maldade um vírus letal.
- Eu sei bem como
é, já nem me lembro direito como é a energia desse lugar.
- Vou te mandar um
pouco dela dentro do seu receptor, só tire com cuidado, para não sofrer demais.
- Obrigado, boa
passagem.
- Que assim seja
Ezu.
- Que assim seja
irmão.